LIÇÃO 04 - ESMIRNA, A IGREJA CONFESSANTE E MÁRTIR
INTRODUÇÃO
Nesta lição, obteremos informações históricas a respeito de uma das sete cidades da Ásia - Esmirna.
Analizaremos o significado do seu nome, sua localização, população e
religião. Veremos ainda como o evangelho chegou a ela, qual o principal
pastor que apascentava aquela igreja e o seu perfil espiritual aos olhos
de Cristo. Por fim, destacaremos pormenorizadamente as exortações
feitas aos cristãos provados daquela igreja, quanto aos sofrimentos que
ainda estavam por vir e a recompensa que Cristo lhe prometeu se
permanecessem fiéis até a morte.
I - CONTEXTO HISTÓRICO DA CIDADE
É necessário destacar aqui algumas informações à respeito da cidade
de Esmirna, a fim de compreendermos melhor a mensagem de Cristo a ela
dirigida. Vejamos algumas:
1.1 Nome: O nome “Esmirna” significa “mirra”, uma
substância amarga, porém, extremamente odorífera, usada como perfume e
muitas vezes para unção de cadáveres para propósitos aromáticos.
Atualmente ela é chamada Izmir. Esta cidade desenvolveu-se até tornar-se
uma das mais prósperas cidades da Ásia Menor, ao ponto de ser chamada
de Coroa da Ásia. Sob o domínio do Império Romano era famosa por seu
esplendor e pela magnificência de seus edifícios públicos, e era um
centro de ciência e medicina;
1.2 Localização: Esmirna é uma cidade da província
romana da Ásia, e está a 80 km ao noroeste de Éfeso, na praia do mar
Egeu, dentro da atual Turquia Asiática;
1.3 População: No tempo que o apóstolo João escreveu
esta carta, a cidade de Esmirna contava com uma população de duzentos e
cinquenta mil habitantes, aproximadamente;
1.4 Religião: A idolatria estava presente na cultura
da cidade, pois havia um rio chamado Meles, que era adorado em Esmirna.
E, como colônia de Roma, praticava-se ali o culto ao imperador.
II - COMO ERA A IGREJA DE ESMIRNA
Conforme podemos entender do segundo tratado de Lucas, o médico
amado, o evangelho provavelmente chegou a Esmirna quando Paulo vinha de
Éfeso:
“E durou isto por espaço de dois anos; de tal maneira
que todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus,
assim judeus como gregos” (At 19.10). Portanto, Esrmina é
uma das sete igrejas da Ásia, a quem Jesus Cristo enviou uma carta por
intermédio do apóstolo João a fim de transmitir-lhe uma mensagem
específica (Ap 1.4,11). Quando João escreveu a igreja de Esmirna, Jesus
revelou-lhe o seu estado. Vejamos o que ele disse:
2.1 O remetente. Antes de tecer comentários sobre a
igreja que estava em Esmirna, Jesus Cristo, o remetente da carta, se
revela de uma forma bem especial, dizendo:
“E ao anjo da igreja que está em Esmirna, escreve: Isto diz o primeiro e o último, que foi morto, e reviveu”
(Ap 2.8). O Mestre mostra para a sua igreja que como Deus, Ele é Eterno
(o primeiro e o último) e, como homem, é imortal: (foi morto, e
reviveu);
2.2 “
Ao anjo da igreja”.
Provavelmente o anjo, ou seja, o pastor desta igreja pode estar
indicando uma referência a pessoa de Policarpo; esse pastor nasceu em
(69 d.C.), e morreu em (155 d.C.). Segundo registros históricos, ele foi
discípulo do Apóstolo João, homem muito consagrado e o “principal
pastor” da igreja de Esmirna durante o exílio de João em Patmos. Ele foi
martirizado ao ser levado perante o governador e instado a negar a sua
fé e o nome de Jesus, mas ele respondeu: “
oitenta e seis anos o servi, e somente bens recebi durante todo tempo. Como poderia agora negar ao meu Senhor e Salvador?” (HURLBUT, p. 65). Policarpo foi queimado vivo;
2.3 “
Eu sei”. Embora João, o escritor da carta, não estivesse presente no dia a dia da igreja, o Senhor estava. Pois ele identifica-se, como “
aquele que anda no meio dos sete castiçais de ouro” (Ap 2.2), como ele mesmo prometeu (Mt 18.20), por isso para todas as sete igrejas da Ásia ele diz: “
Eu sei“. Ele começou a relatar o perfil da Igreja, pois Ele é onisciente (tem todo conhecimento);
2.4 “
As tuas obras”. A expressão “obra” do grego “
ergon” significa: trabalho, ação, ato. É extremamente importante ressaltar que o cristão não é salvo
pelas obras (Ef 2.8,9), no entanto é salvo
para as obras (Ef
2.10). O apóstolo Paulo ensinou que somos justificados pela fé (Rm
5.1), porém Tiago também ensinou que a fé sem obras é morta (Tg 2.17).
Sem dúvida alguma, não existe contradição em ambas as declarações.
Muito pelo contrário, elas se completam perfeitamente. Afinal de contas,
um verdadeiro cristão que crê no Senhor Jesus Cristo, demonstra sua
verdadeira fé com obras. Tal qual Abraão que primeiro creu e isso lhe
foi creditado como justiça (Gl 3.6), mas que aperfeiçoou a sua fé quando
obedeceu à voz de divina (Tg 2.22-24);
2.5 “E tribulação”. No grego, o termo tribulação, é “
thlipsis” que significa “pressão”, derivado de “
thlibo“,
que tem o sentido geral de “pressionar”, “afligir”. Jesus não era
insensível as perseguições que os cristãos daquela igreja estavam
enfrentando, tanto externas (por meio dos romanos), quanto internas
(pelos que se diziam judeus). Tal como a mirra, que como vimos tem sabor
amargo, porém é cheirosa. Os crentes de Esmirna estavam experimentando a
amargura da tribulação (Ap 2.9), todavia, seu testemunho era como um
bom perfume que exalava às narinas de Deus (Ap 2.10);
Afinal de contas o sofrimento na vida cristã testa a qualidade da nossa fé como o ouro que o fogo prova: “
Para
que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e
é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação
de Jesus Cristo” (I Pe 1.7);
2.6 “E pobreza, mas tu és rico”. Os crentes de
Esmirna eram pobres, não por falta de trabalho, mas devido às
perseguições que sofriam. Suas propriedades e bens foram confiscados
pelo poderio romano, e além de tudo, esses servos de Deus, ainda sofriam
encarceramento, por se oporem ao paganismo presente na cidade. No
entanto, está declarado na confissão de Cristo, que eles eram ricos.
Podemos nos perguntar: em que? Nas riquezas espirituais. Eles eram de
fato ricos: nas obras, na fé, na oração, no amor não fingido, na leitura
da Palavra de Deus. Estas coisas diante de Deus, se constituem, do
ponto de vista do cristianismo as riquezas da alma (Mt 6.20; 1Tm
6.17-19).
III - EXORTAÇÕES E PROMESSAS FINAIS
Podemos perceber nas palavras dirigidas por Jesus a igreja de Esmirna
que ela, tanto como a igreja de Filadélfia não receberam nenhuma
reprovação. No entanto, mesmo sendo elogiada, foi exortada a manter-se
fiel (Ap 2.10). Por fim, Cristo lhe faz promessas consoladoras a fim de
recompensar aos que vencerem (Ap 2.10,11). Vejamo-nas detalhadamente:
3.1 Cristo prevê que um sofrimento maior estava por vir. Podemos perceber claramente na declaração de Cristo que apesar da igreja estar sofrendo no presente: “
eu sei a tua tribulação“, estaria também enfrentando um sofrimento futuro, no entanto, foi estimulada a não temer: “
Nada temas das coisas que hás de padecer”
(Ap 2.10). Na verdade, Jesus nunca prometeu uma vida isenta de dores e
provações aos seus discípulos (Jo 16.33), muito pelo contrário, sempre
advertiu que os que seguissem deveriam levar a cruz (Mt 16.24). Porém,
Ele prometeu estar conosco em todo tempo: “
e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28.20-b);
3.2 Cristo prevê qual seria o tipo de sofrimento. O
texto nos fornece a informação de quem estava por trás da perseguição e
qual seria o sofrimento experimentado pelos cristãos de Esmirna: “
Eis
que o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados; e
tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a
coroa da vida” (Ap 2.10). As perseguições promovidas pelos
romanos àquela igreja, com a ajuda dos judeus (os que se dizem), foram
obras de Satanás. Sob alegação de que os cristãos de Esmirna estavam
“traindo” o imperador, houve um encarceramento em massa, e a seguir o
imperador ordenou o martírio de muitos daqueles. Segundo historiadores,
em uma só catacumba de Roma foram encontrados os remanescentes ósseos de
cento e setenta e quatro mil cristãos, aproximadamente;
3.3 Cristo prometeu galardoar os vencedores. Todo o
sofrimento e provação que aqueles fiéis seguidores de Cristo, estavam
enfrentando, segundo o próprio Jesus, teriam uma recompensa: “
Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida” (Ap 2.10). Assim como Cristo usou a coroa de espinhos (Mt 27.29) e depois a coroa de glória (Hb 2.9).
Semelhantemente, os cristãos passariam pelo sofrimento para depois
receberem dele a coroa, prometida a todos aos que o amam (Tg 1.12). Esta
esperança também ardia no coração do apóstolo Paulo (II Tm 4.8). A
expressão “coroa” do grego “
sthepanos” diz
respeito a um prêmio ou recompensa dado como símbolo de triunfo nos
jogos ou competições. A Escritura denomina esta recompensa de
coroa da vida (Ap 2.9);
coroa da justiça (II Tm 4.8);
coroa de glória (I
Pe 5.4). Por isso, os cristãos foram incentivados a resistirem o pecado
até a morte, cientes de que, o verdadeiro prejuízo não era a morte
física, mas a espiritual, da qual eles já estavam livres, pelo
sacrifício de Cristo: “
Na verdade, na verdade vos digo que
quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida
eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida”. (Jo 5.24).
CONCLUSÃO
Como pudemos ver, a cidade de Esmirna desfrutava de uma grande
prosperidade material; no entanto a igreja de Cristo naquele lugar, por
se opor as práticas pagãs, sofria: pobreza, perseguição e até morte.
Isto fez com que Jesus lhes enviasse uma pequena carta, a menor em
comparação com as outras, porém, grande em conteúdo, pois confortava
aqueles cristãos que, apesar de pobres, eram ricos; mesmo perseguidos
deveriam permanecer fiéis; e ainda que morressem, morreriam apenas
fisicamente, pois seriam vencedores dignos da coroa da vida (Ap 2.11).
Que possamos ter estes cristãos como um exemplo de que, mesmo passando
por grandes sofrimentos, por amor a Cristo, devemos permanecer firmes e
inabaláveis, imitando a perseverança do nosso Senhor, que pelo gozo que
lhe estava proposto tudo suportou (Hb 12.2).
REFERÊNCIAS
- MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo. SBB
- HURLBUT, Jesse Lyman. História da Igreja Cristã. VIDA
- DOUGLAS, J.D. O novo dicionário da Bíblia. VIDA NOVA
- VINE, W.E et al. Dicionário Vine. CPAD
- SILVA, Severino Pedro da. Apocalipse versículo por versículo. CPAD
- BOYER, Orlando. Pequena Enciclopédia Bíblica. CPAD.